sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Paradão, só olhando

Mercado não se move, fica num sobe e desce de pequena amplitude, e eu fico parado olhando. Por isso nenhuma postagem nova por aqui.

Mas a estratégia permanece a mesma. Estou esperando para ver o que acontece. Se cair forte, aciona compras no próximo suporte forte. Se subir, no rompimento da resistência mais significativa à frente.

Sobre o cenário atual.

Entramos em uma fase em que tanto faz haver notícias positivas, elas já não influenciam. Tendência de baixa mesmo, persistente. O ânimo é outro, o padrão é outro. Mesmo quando as coisas estão subindo, se espera que caiam logo à frente. E elas caem, como consequência.

Um exemplo disso são os resultados semestrais das empresas brasileiras! Um monte delas exibindo recordes de lucro enquanto as ações caem inapelavelmente. Petrobras, Gerdau, Banco do Brasil são algumas que obtiveram lucros como nunca antes no 1o semestre de 2008, mas isso pouco ou nada influenciou o preço de suas ações.

Eu fico conjecturando o que poderia mudar esse ânimo. Se seria uma grande notícia, ou se vai ser algo assim paulatino, do dia-a-dia mesmo. Um dia dá alta, no outro também, no terceiro também... e o ânimo da garotada vai mudando, melhorando, até que uma alta consistente engrena.

Não lembro como essas mudanças de humor aconteceram nas últimas crises. Estava atuando na crise de agosto do ano passado, e no início deste ano, mas confesso que não prestei atenção a este movimento. Uma pena que não o tenha feito, pois aí não tenho padrões na memória para analisar o mercado.

Mas vamos em frente. Preservo alguma esperança de uma retomada não muito distante. Mas cada vez que vejo o gráfico de longo prazo dolarizado do Bovespa, disponível na Enfoque, me dá medo de que o ciclo esteja ainda no começo, e que mais queda ainda venha pela frente. Estamos com algo perto de 26% de queda acumulada desde o TH, e nos grandes movimentos de queda que já aconteceram na Bovespa, o total da queda ultrapassou 80%! Em uma das vezes, chegou a 91%.

Pense bem, foram 91% de queda! Soa inacreditável, mas já aconteceu. Já imaginou uma liquidação dessas, poder comprar Petrobras a 1/10 do valor dela? Dessa perspectiva é uma delícia, mas os comprados como eu têm arrepio só de pensar no caso dos papéis que estão em carteira chegarem a valer apenas 1/10 do que se pagou por eles.

10 comentários:

  1. Rodrigo,

    Mercado financeiro vive de futuro, de expectativas e não de passado.
    Embora às vezes não pareça, o valor de uma ação está ligado a seus fundamentos, ao valor esperado descontado de seu fluxo de caixa livre para os acionistas (DCF, em inglês). Se o preço das commodities cai, o lucro das empresas ligadas a estes segmentos certamente cairá, e o mercado desconta isso hoje, imediatamente.
    O valor de uma ação ( ou um 'range' de valor) depende dos fundamentos e é por isso que o valor de uma determinada ação vale 40 e não 2 ou 120, senão seria um jogo sem qq lógica.
    Agora quando falamos de 'preço' da ação negociada diariamente nos mercados, este varia em torno de um 'valor' baseado nos fundamentos, preso a ele às vezes por uma borracha bem flexível é verdade,e é este movimento dos preços de que se ocupa a Análise Técnica.
    Tudo isto é pra dizer que o valor de uma ação pode sim cair para 1/10 de seu máximo valor com base nos fundamentos e não ser um movimento histérico do mercado e sim baseado em fatos reais.
    Só pra colocar mais dúvidas na sua cabeça, como dizia Keynes ( além de excelente economista um excelente operador de mercado, como atestam alguns historiadores) no Longo Prazo estaremos todos mortos.

    Marcelo (nao sou Marcelo Barbosa)

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  2. Petrobras e Gerdau divulgaram lucro, entretanto, como a expectativa é de queda das commodities, antecipa-se que o lucro dessas empresas deverá cair no futuro próximo. Simples assim. Tivemos um boom de commodities, os gringos vieram aqui e especularam muito, agora a festa acabou, a bolha estourou. Os donos do dinheiro foram para outra meta especulativa. Aparentemente, mercados americanos mesmo. Por isso vendem muito aqui. Claro que um dia a Bovespa volta a subir. E eu estou esperando "de fora"...

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  3. Anônimo e Arnaldo, eu me permito discordar um pouco. Primeiro, não creio na teoria dos mercados eficientes, então penso que há, com frequência, distorções incríveis entre fundamentos e preços. O mercado é maníaco-depressivo, quando compra se empanturra, quando vende vai ao desespero. No momento parece uma anoréxica, por mais que emagreça, ainda se acha gorda.

    Quanto à expectativas de queda futura nos lucros, realmente influencia. Mas também não é tão direto assim. O exemplo melhor é o da Petro, que está a preços de antes de Tupi.

    Mas uma coisa é certa. Ainda há muito espaço para cair, sem sombra de dúvidas. Caímos nem 30% ainda, se entrar em tirmo de anoréxica mesmo, vai pro chão, passará dos 50% com facilidade.

    Mas tenho esperança de que isso não aconteça. Só que como esperança não enche prato, tô pensando nas melhores estratégias para esse cenário.

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  4. "O mercado é maníaco-depressivo, quando compra se empanturra, quando vende vai ao desespero."
    Isso é uma grande verdade!... Acontece que nós devemos seguir o mercado - se quisermos ganhar dinheiro - e não ficar criticando o mercado. Veja esta de um grande especulador, Bruce Kovner:

    • Sempre que um trader diz “eu quero”, ou “eu espero”, ele está se engajando em uma maneira destrutiva de pensar, porque isso afasta a sua atenção do processo de diagnóstico.

    • Um bom trader não prediz o futuro, ele simplesmente observa o que está acontecendo e atua de maneira racional.

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  5. Não existe na Bolsa esse negócio de barato ou caro. É incrivel como o mercado vai formando os preços e os 'fundamentalistas' vão correndo atrás, justificando os novos patamares de preços. Outro dia falavam em 82.000 pts para 2008; hoje já se contentam com 72.000 ; daqui a algumas semanas talvez vire 62.000.
    Agora isso não invalida a teoria dos mercados eficientes. O que a teoria diz ( e vários testes já comprovaram sua eficácia em algum dos seus três níveis) é que os mercados financeiros se ajustam rapidamente a novos fatos. E disso não há dúvidas de que o mercado faz.

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  6. Você está correto em tudo o que disse. Agora, quero é ver um "fato novo" que reverta as bolsas, estando o mundo em desaceleração, e com a crise de crédito que parece não ter fim. Eu entendo que isso é fato, está aí, é "normal". E entendo que é melhor ficar de fora, esperando mudar, procurando outros investimentos, e estudando os mercados. Lutar contra, é tolice.

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  7. Mas é aí que entra o grande erro : só enxergar a bolsa pra alta. Só existem 03 possibilidades na bolsa : alta, baixa ou acumulação. Consequentemente, vc pode ficar comprado, vendido ou ficar de fora.
    Que fase estamos vivendo ? Tendência de baixa !! Então, até que esta tendência reverta ( o que pode ocorrer nas próximas semanas, meses ou anos, ninguém sabe) só faz sentido operar na baixa, vendido. Pequenos repiques podem ocorrer enquanto durar a tendência de baixa o que abre a possibilidade de 02 trades : um rápido, de compra curta ou o melhor, de venda a um preço mais alto do que o último fundo, próximo a LT ( se chegar até lá).
    As tendências não mudam de um dia pra outro : levam semanas ou meses para a virada. Não adianta ficar tentando prever quando virão. Não se esqueça de que o mercado é um só para quem perde e para quem vence.

    Marcelo

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  8. Isso não quer dizer que não se possa apostar no Longo Prazo, seja lá o que isso significa. Enquanto o mundo estiver crescendo as tendências primárias são de alta. Mas pra isso convém montar uma carteira diversificada, pois se se apostar em somente uma ação a aposta vira bilhete de loteria : pode dar em nada como pode ser uma grata surpresa.

    (consegui me logar novamente para não parecer que quero me manter anônimo)

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  9. O mundo está crescendo, mas, desacelerando. Ou seja, a Bolsa não é um negócio ruim, mas vai ficar, no mínimo, lento... Lateralizar, talvez.

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  10. Que belo debate, hein? Agradeço a todos pelos comentários, bastante instrutivos.

    Arnaldo, eu não penso em ir contra o mercado, nem ficar criticando ele. Minha questão é analisar, com as ferramentas que disponho. E aí entram as metáforas - maníaco-depressivo, anoréxico... vem da minha experiência como psicólogo.

    Também vem deste background algumas crenças, ou descrenças, para ser mais preciso. Não creio na teoria dos mercados eficientes, porque mercados são feitos por pessoas, todas elas cheias de emoções e decisões irracionais.

    Também não creio numa ligação muito precisa nos fundamentos, porque me parece que o que move essa coisa toda são expectativas, e não fatos. E expectativas são apenas... crenças! Coisas que as pessoas acreditam, que podem ou não ser reais.

    Por isso estou curioso para ver como vai ser a retomada, seja lá quando ela acontecer. Pode vir como falei, um diazinho depois do outro, vários candles positivos encadeados. Não precisa muitos deles para mudar o ânimo da garotada, ao que parece.

    Mas sigo cauteloso, e afeito à estratégia traçada. Quero formar uma carteira de longo prazo, com compras em momentos de queda e uam base razoável de allocation. Me falta definir o percentual dessa alocação, penso em 50-50, mas pode ser um 60-40 também.

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